quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A tragédia grega




Foucault resgata o pensamento de Nietzsche, quando trata das questões morais. Ambos afirmam que mais do que um código de conduta criado por outros homens, deveríamos pautar nossa conduta por escolhas pessoais. Foucault avança em relação a Nietzsche, porque ele fala do cuidado de si para o cuidado com o outro também, como está no vídeo com esse tema, já postado no blog.
Mas ambos retomam à antiquidade para falar sobre a moral antiga e a moral moderna, e falam sobre a tragédia grega. É essa história que quero contar hoje:





O culto a Dioniso
(educaterra.terra.com.br/.../tragedia_grega3.htm)


Etimologicamente "Dionísio" significa o filho de Zeus (os romanos chamaram-no de Baco). Na época da colheita as comunidades rurais dedicavam ao deus festivo, cinco dias de folias ungidas com muito vinho, até provocar a embriaguez coletiva. Durante as bacantes, isto é, as festas dionisíacas, ninguém poderia ser detido e aqueles que estivessem presos eram libertados para participarem da festança geral.

Acredita-se que sua origem primeira veio da Trácia, sendo que as mulheres daquela região da Grécia foram suas principais adoradoras. Embriagadas ou simulando encontraram-se "possuídas", endemoninhadas, lançando sobre si cinzas e pó, as seguidoras de Dionísio refugiavam-se em locais ermos para, em contato com o ar livre e a natureza selvática, exorcizar a "possessão". [...] A origem psico-sociológica desse comportamento não foi ainda suficientemente avaliada, mas pode-se supor que derivasse de uma reação patológica à exclusão cada vez maior das mulheres da vida coletiva.

O atingido por tal loucura, excluídas as circunstâncias exteriores capazes de provocarem o fenômeno, via estranhas figuras, ouvia o som de flautas e caia num profundo paroxismo, sendo atacado por um furor irresistível de dançar. Portanto, o culto dionisíaco conservou, como um componente essencial, essas explosões imprevisíveis, anárquicas e passionais, que fizeram com que Nietzsche as identificasse como as autenticas manifestações de uma vitalidade aprisionada pela moral, pelo preconceito e pela razão.

Eles procuram um caminho de volta ao útero do ser – uma fuga da prisão do eu. Essa condição de transe nos protege brevemente de nosso sentido de isolamento e da natureza transitória da vida humana, da qual nossa intuição não nos permite escapar. (Nietzsche)
Apolo, o deus símbolo da racionalidade, da beleza e da inteligência, estendeu finalmente seus braços para Dionísio. Transpondo tal esquematização para a encenação teatral podemos afirmar que a Tragédia, como espetáculo, era a domesticação apolínea dos desregramentos de Dionísio. O Consciente dominando o Inconsciente; o Racional subordinando o Temerário; o Sol desvelando a Treva. Ao reproduzir frente ao público o inesperado, o passional, imaginava-se conter Dionísio, domesticando-o. Por isso entende-se a observação de Nietzsche que afirmou que os gregos foram obrigados a erguer dois altares na encenação teatral: um para Apolo e o outro a Dionísio.

O espírito dionisíaco é reprimido e permanecemos separados da intuição sensual e da verdade espiritual. O mito trágico se perdeu. (Nietzsche)

Imagem: http://3.bp.blogspot.com/





3 comentários:

  1. Muito interessante! Nesse caso, Nietzscher, vem apontar as questões em que a sociedade mascara seus atos como, por exemplo, o processo aceito e mantido de poder "beber socialmente" ou mesmo ‘embriagar-se’, de uma forma subjetiva (não sei se o Foucault vai falar sobre o assunto), na alienação da repetição social sem visão crítica e/ou reflexão individual?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu acho que só posso responder sua pergunta com uma outra pergunta: será porque precisamos tanto das drogas - sejam elas lícitas ou ilícitas - nesta nossa época? O crack chegou ao ambiente rural, o que isso significa?

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